sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A cura da Loucura

Só eu sei o tamanho de cada barranco. Um minuto e é possível reviver a angústia da queda, o estômago saindo pela boca, a adrenalina doendo nas extremidades do corpo, o grito sufocado.

As pedras deixaram cicatrizes. Algumas ainda abertas, purulentas. Outras já fechadas, curadas. Outras, ainda, que de tão fortes deixaram áreas inteiras insensíveis. As que atirei, só eu sei. Atingindo em cheio testas, nucas, braços, peitos... algumas lançadas quando a pessoa, coitada, nem esperava: queda inerte. Tantas à queima-roupa. 

E junto com as pedras no chão, o rastro de incompreensão se arrasta e nunca faz sentido pra ninguém a não ser eu mesma. Eu e meus diversos "eus" que mal conheço, mas com os quais sou obrigada a lidar. Sim, lidar, não necessariamente compreender.

Às vezes sinto no dedo as farpas, pequenas e malignas, que entram e não dóem o suficiente para requerer a atitude de eliminá-las. Pelo contrário, às vezes até causam uma coceira gostosa. Mas a verdade mesmo é que não ligo muito pra elas. As mentiras, essas sim são doses de veneno, às vezes doce e tentador, que causam um mal danado, às vezes, também irreparável.

Bons e maus motivos se intercalam. E vejo a vida brincando. Dia e noite, chuva e sol, verão e inverno. As desilusões nos fechando cada vez mais em cúpulas herméticas e amores que nos quebram ao meio.

Penso em tudo e vem o silêncio. Nada a dizer, só viver. É a certeza de que é a vida empurrando, ensinando na marra, e que, apesar de tanta coisa: é bonita, é bonita e é bonita. Conviver com isso tudo faz parte. Parte do que somos. Parte do que precisamos ser.

Silêncio e, de novo: nada a dizer. Deixar agir a cura da loucura... amor que não precisa entender, mas simplesmente, amar. Amor que não entra no meu ciclo vicioso, intenso, melancólico e dramático de explicar e sangrar. Mas que abraça, envolve, conforta pela simples presença. Sem explicações, sem a pretensão de tentar prender sentimentos em palavras, mas por conseguir soltá-los para sempre com um simples abraço.

Por mim, tudo bem. Eu tenho sim muita sorte.


Lulu Santos - Tudo Bem



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